“Se eu devo R$ 70 e pago R$ 40, então eu ainda devo trinta reais. É isso mesmo, né?!”, perguntou-me andando em ritmo acelerado um [suponho, pelo sotaque] capixaba. “É que eu ando com a cabeça meio ruim pra fazer contas”, confidencio-me, sem saber que eu nasci ruim pra fazer conta.
Eram 19 horas do dia 22 de abril e eu caminhava do Setor Comercial Sul até a Rodoviária do Plano Piloto. Já estava bem de frente para a Esplanada dos Ministérios, palco das comemorações dos 50 anos da capital federal.
Brasília tem dessas coisas...
Sampa, de Caetano Veloso, em muitas partes poderia ter sido escrita para Brasília.
“Da força da grana que ergue e destrói coisas belas [...] eu vejo surgir teus poetas de campos e espaços [...]”. Essa parte é uma delas.
Por outro lado, “da dura poesia concreta de tuas esquinas [...]” de longe denota a realidade do concreto que “paira no ar” aqui. Também não poderia rimar o verso “da feia fumaça que sobe apagando as estrelas”.
Brasília é realmente uma cidade que desperta sensações indescritíveis. Nem vou tentar escrever o que sinto. Eu não daria conta.
A geografia de Brasília permite que o céu seja o mais bonito que pode ser visto de uma cidade. Iguala-se apenas com o céu da zona rural. As estrelas não brilham: irradiam. A simetria – até das curvas – é de encantar ao mais atrevido coração.
Em Brasília, como em qualquer outro lugar do mundo, tem pessoas com desejos, sonhos, trabalhos e perspectivas. Mas não é como qualquer outro lugar do mundo. Portanto, seus 50 anos não representam os mesmos 50 anos de qualquer outro lugar do mundo.
Brasília, por ser o centro político do país, concentra enorme corrupção. Mas não é disso que quero falar.
Quero lembrar que esta cidade, na qual sempre quis morar por algum tempo sem entender o por que dessa minha necessidade, nasceu de uma enorme pretensão de mudança. Foi construída como se constrói uma casa. E, assim como tal, abriga moradores ansiosos por vidas melhores.
Estar aqui nesse momento, pra mim, é um privilégio. É como se a história percorresse minhas veias e, ao chegar ao coração, parasse.
Acho que é disso que somos feitos: história.
De qualquer forma, “alguma coisa acontece no meu coração...”