domingo, 8 de abril de 2007

Cidadão de Papel

Quando eu estava na oitava série do ensino fundamental fui obrigado a ler um livro que não significava mais que uma das notas necessárias para finalizar o semestre de Língua Portuguesa. O título era O Cidadão de Papel, de Gilberto Dimenstein.

Lembro que o que mais intrigou meus pensamentos foram as fotografias, que mostravam coisas que os jovens da minha escola sabiam, mas preferiam fingir desconhecer. Também me recordo que levei duas semanas para finalizar a leitura. Duração de tempo que não me enchia de orgulho, tampouco fazia menos de mim pela idade que tinha.

Sete anos mais tarde, e por ironia do destino, revirei meus guardados e [re] encontrei o livro. As páginas estavam levemente amareladas, mas demontravam o zelo com que sempre cuidei das minhas coisas.

Dessa vez a leitura foi menos onerosa: nada mais que um dia. A necessidade era outra. Trata-se de uma das obras que tenho de ler para o meu trabalho de conclusão de curso. Agora, todas aquelas informações fazem sentido pra mim. São números que indicam o retrocesso do país; o descaso com a infância e a adolescência; perspectivas frustradas de meninos e meninas. Sonhos que se sonhavam só e desde sempre transformaram-se em pesadelos.

Percebi, então, o quanto fui negligente com esse tipo de leitura quando tinha meus 15 anos. Agora, com 22 aniversários completos, trabalho em uma Ong [Organização Não Governamental] que faz parte da Rede Andi Brasil.

O que isso tem a ver com a paçoca [com o Cidadão de Papel] ?

A Andi [Agência de Notícias dos Direitos da Infância] foi fundada pelos jornalistas Gilberto Dimenstein e Âmbar de Barros, em 1992.

Fui de papel, e hoje trabalho para que jovens não representem apenas porcentagens e constituições. Enfim, Cidadãos de Papel.