sexta-feira, 6 de março de 2009

A fórmula que todo mundo desconhece

Acho que entendo por que o mundo está se esgotando dentro de suas inúmeras possibilidades. Mas mesmo que minha explicação faça algum sentido é apenas um ponto de vista unitário, isolado e pretensioso.

Acontece que todos nós avaliamos as situações de dentro dos nossos próprios quintais. Insistimos em desconhecer o que acontece realmente e nos preocupamos somente em apontar acusados e problemas para depois sugerir alternativas e pousar de heróis.

Fácil achar o caminho a seguir num mapa com lápis de cor. Moleza mandar a tropa atacar da tela do computador. Sem o cheiro, sem o som, sem ter nunca estado lá, sem ter que voltar pra ver o que restou (...)”. Esse é um trecho da música “Coração Blindado”, do compositor gaúcho Humberto Gessinger. Se a gente descer um pouco do nosso salto de cristal e pretensões iremos perceber que o que ele diz faz sentido. E mais: é dessa forma que agimos inúmeras vezes, quando um chefe ordena que seu subordinado resolva um problema dentro de um prazo impossível de ser cumprido; quando um pai de família tem que conseguir o sustento de seus dependentes com um salário de miséria; quando uma mãe grita com o filho “fecha a boca e come!” [bem paradoxal isso!!!], e por aí vai.

Queremos quase sempre que as coisas façam sentido através de nossas próprias experiências, desconhecendo por simplicidade ou deixando de lado por puro capricho todas as realidades que acontecem fora de nossas casas e rotinas.

Por que ignorar as diversidades se é mais divertido trazer todas elas para dentro de nossa convivência? Isso não quer dizer que seja uma tarefa fácil, mas significa que é um exercício necessário a ser feito.

Se cada um de nós partisse do princípio básico de se colocar no lugar das outras pessoas não haveria a necessidade de tantas legislações, tratados, acordos, guerras, burocracias e juramentos. Tudo fluiria como uma conversa entre amigos. Aliás, algum de nós condena um amigo mortalmente por dizer algo que nos chateie ou por fazer algo que não faríamos? Creio que não. Ficamos chateados e refletimos sobre o que aconteceu, mas depois passamos uma borracha no assunto – ou o guardamos em uma gaveta bem trancada – e continuamos o jogo da vida.

Entretanto, quando a “polêmica” sai da nossa intimidade e a percebemos como uma ameaça ao nosso mundinho, tratamos logo de agredir, julgar, condenar e esperar que a pena seja dolorosa.

Pra que tudo isso? De onde vem essa necessidade de unificar tudo com os nossos próprios exemplos? Será que as experiências do passado, a história mundial com os capítulos do nazismo, segregação racial, militarismo e censura, entre tantas outras barbaridades, não serviram para mostrar que quanto mais queremos estipular uma unidade baseada no que todos temos em comum acabamos criando uma guerra por deixar de lado a riqueza que existe justamente no que cada um tem de diferente?

Ser tolerante e racional não é fácil, mas é uma obrigação. Quando ligo a televisão e vejo pessoas discutindo sobre diferentes assuntos até acho compreensível porque discutir é construir as bases de uma evolução. [Aliás, quando falamos em evolução será que, necessariamente, estamos falando de progresso?]. Mas quando vejo que alguém usa a religião, as convicções políticas, o time de futebol, a escola de samba, a música e a arte em geral para separar as pessoas fico muito frustrado. É como usar tudo que vale a pena para ficar numa ofensiva constante e ignorar a possibilidade de ajustes do mundo.

Qual é o nosso papel diante de tudo isso? Será que estamos fazendo o que realmente tem que ser feito ou apenas deixando as coisas difíceis para que alguém de gerações futuras resolva?

Seja como for, espero que, pelo menos, as pessoas se sintam incomodadas com essas disparidades. Porque a catarse e a indiferença doem mais do que qualquer guerra idiota que o mundo promova.

Acho que quando Geraldo Vandré cantava “vem, vamos embora que esperar não é saber. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer (...)” ele não tinha noção de que “fazer a hora” é mais complexo do que “provocar” as pessoas. Mas ele tinha muito boa vontade. E, de certa forma, fez de sua hora a hora de muita gente.

Quem de nós está pronto para ajustar o próprio relógio?