Sou um doido que canta uma coisa qualquer
Pra tentar ser inteiro - ou o melhor que puder
Sou o que não se sabe ou o que já se esqueceu
A saudade que fica do amor que morreu
Sou a caixa vazia das suas lembranças
De um tempo feliz, de integridade sacana
A edição de um filme feito em cima da cama
Honestidade fingida, suavidade profana
Sou a vela que acaba, a luz que se acende
A estrada molhada, o calor do acidente
Sou o prato vazio da fome que só aumenta
A sobra da escassez, o amor que alimenta
Sou o dinheiro que acaba, a dívida que aumenta
O sonho que entala na passagem estreita
Sou o tempo esgotado, a falta de sorte
A brisa da madrugada, a cicatriz de um corte
Sou a metade de um papel com a confissão de um crime
Sou a caneta sem tinta que assina a sentença
Diferente do que fui ou serei
Menor do que quero e maior do que sonhei
Sou a metade de uma esquina
Que não sabe pra onde vai e nem onde termina
Rascunho de poesia...