Mochila nas costas e roupa confortável, eu subia uma pequena ladeira em direção à lavanderia, onde eu deixaria meu terno para que alguém fizesse o que eu não sei: lavar e passar o dito cujo.
Ultrapassei um grupo de estudantes uniformizados, provavelmente do Ensino Médio; dois pedreiros que, aparentemente, estavam deixando o turno; e um casal de idosos que fazia caminhada. Mas foi quando me aproximei de uma mulher com uma criança de [mais ou menos] 5 anos que minha atenção foi chamada.
- Mãe, quando a gente morre e vai pro céu a gente vira anjo?
- Não minha filha.
- Mas se a gente não vira anjo, o que faz lá em cima?
- Minha filha, não é assim que as coisas funcionam. É um pouco diferente.
- Mas quando o vovô morreu você disse que ele tava olhando a gente lá de cima. Quem sobe não é anjo? E não é anjo que protege a gente?
- Dá a mão pra atravessar a rua!
A mulher mudou de assunto visivelmente por não saber o que responder. Crianças têm esse dom de fazer com que a gente se sinta pressionado ou envergonhado diante de seus questionamentos. Dúvidas que, de tão simples, parecem ser científicas, envoltas de toda a verdade universal.
O que me impressionou é que essa menina já procura respostas que eu, aos 24 anos, ainda não tenho sobre um assunto que nem deveria ser de seu interesse. Crianças nessa idade deveriam pensar em brincar, fazer traquinagem, desobedecer e irritar os pais... E não saber o que acontece quando sua vida [até então recente] chega ao fim.
O que faz com que essas crianças sejam tão precoces? Aliás, será que isso é bom?
Comecei a me preocupar porque o Brasil não tem uma estrutura educacional que acompanhe com qualidade essa evolução das crianças. Se ainda existem paus-de-arara fazendo o transporte escolar por falta de um investimento mínimo para a compra de veículos decentes, nem vou falar na falta de qualificação dos professores.
Porque é assim que tudo funciona: se o investimento aparece aos olhos e a curto prazo, existe certa tendência de se conseguir alguma verba. Mas, se o investimento for subjetivo e a médio e longo prazo, como capacitação, por exemplo, aí o soneto é diferente...
Acompanhar o desenvolvimento dessas crianças exige sensibilidade. E isso é uma questão cultural. Ainda não estamos totalmente preparados para tentar compreender o que se passa pela infância. Governo e sociedade tentam sanar problemas pontuais, que não deixam de ser importantes – obviamente – mas não são fatos isolados.
Nessa queda de braço ninguém ganha. Todo mundo simplesmente vive.
Assim, as coisas simplesmente acontecem. E nossas dúvidas só aumentam, como no caso da menininha de 5 anos...
Ultrapassei um grupo de estudantes uniformizados, provavelmente do Ensino Médio; dois pedreiros que, aparentemente, estavam deixando o turno; e um casal de idosos que fazia caminhada. Mas foi quando me aproximei de uma mulher com uma criança de [mais ou menos] 5 anos que minha atenção foi chamada.
- Mãe, quando a gente morre e vai pro céu a gente vira anjo?
- Não minha filha.
- Mas se a gente não vira anjo, o que faz lá em cima?
- Minha filha, não é assim que as coisas funcionam. É um pouco diferente.
- Mas quando o vovô morreu você disse que ele tava olhando a gente lá de cima. Quem sobe não é anjo? E não é anjo que protege a gente?
- Dá a mão pra atravessar a rua!
A mulher mudou de assunto visivelmente por não saber o que responder. Crianças têm esse dom de fazer com que a gente se sinta pressionado ou envergonhado diante de seus questionamentos. Dúvidas que, de tão simples, parecem ser científicas, envoltas de toda a verdade universal.
O que me impressionou é que essa menina já procura respostas que eu, aos 24 anos, ainda não tenho sobre um assunto que nem deveria ser de seu interesse. Crianças nessa idade deveriam pensar em brincar, fazer traquinagem, desobedecer e irritar os pais... E não saber o que acontece quando sua vida [até então recente] chega ao fim.
O que faz com que essas crianças sejam tão precoces? Aliás, será que isso é bom?
Comecei a me preocupar porque o Brasil não tem uma estrutura educacional que acompanhe com qualidade essa evolução das crianças. Se ainda existem paus-de-arara fazendo o transporte escolar por falta de um investimento mínimo para a compra de veículos decentes, nem vou falar na falta de qualificação dos professores.
Porque é assim que tudo funciona: se o investimento aparece aos olhos e a curto prazo, existe certa tendência de se conseguir alguma verba. Mas, se o investimento for subjetivo e a médio e longo prazo, como capacitação, por exemplo, aí o soneto é diferente...
Acompanhar o desenvolvimento dessas crianças exige sensibilidade. E isso é uma questão cultural. Ainda não estamos totalmente preparados para tentar compreender o que se passa pela infância. Governo e sociedade tentam sanar problemas pontuais, que não deixam de ser importantes – obviamente – mas não são fatos isolados.
Nessa queda de braço ninguém ganha. Todo mundo simplesmente vive.
Assim, as coisas simplesmente acontecem. E nossas dúvidas só aumentam, como no caso da menininha de 5 anos...