segunda-feira, 29 de junho de 2009

Dúvidas de além túmulo

Mochila nas costas e roupa confortável, eu subia uma pequena ladeira em direção à lavanderia, onde eu deixaria meu terno para que alguém fizesse o que eu não sei: lavar e passar o dito cujo.

Ultrapassei um grupo de estudantes uniformizados, provavelmente do Ensino Médio; dois pedreiros que, aparentemente, estavam deixando o turno; e um casal de idosos que fazia caminhada. Mas foi quando me aproximei de uma mulher com uma criança de [mais ou menos] 5 anos que minha atenção foi chamada.

- Mãe, quando a gente morre e vai pro céu a gente vira anjo?
- Não minha filha.
- Mas se a gente não vira anjo, o que faz lá em cima?
- Minha filha, não é assim que as coisas funcionam. É um pouco diferente.
- Mas quando o vovô morreu você disse que ele tava olhando a gente lá de cima. Quem sobe não é anjo? E não é anjo que protege a gente?
- Dá a mão pra atravessar a rua!

A mulher mudou de assunto visivelmente por não saber o que responder. Crianças têm esse dom de fazer com que a gente se sinta pressionado ou envergonhado diante de seus questionamentos. Dúvidas que, de tão simples, parecem ser científicas, envoltas de toda a verdade universal.

O que me impressionou é que essa menina já procura respostas que eu, aos 24 anos, ainda não tenho sobre um assunto que nem deveria ser de seu interesse. Crianças nessa idade deveriam pensar em brincar, fazer traquinagem, desobedecer e irritar os pais... E não saber o que acontece quando sua vida [até então recente] chega ao fim.

O que faz com que essas crianças sejam tão precoces? Aliás, será que isso é bom?

Comecei a me preocupar porque o Brasil não tem uma estrutura educacional que acompanhe com qualidade essa evolução das crianças. Se ainda existem paus-de-arara fazendo o transporte escolar por falta de um investimento mínimo para a compra de veículos decentes, nem vou falar na falta de qualificação dos professores.

Porque é assim que tudo funciona: se o investimento aparece aos olhos e a curto prazo, existe certa tendência de se conseguir alguma verba. Mas, se o investimento for subjetivo e a médio e longo prazo, como capacitação, por exemplo, aí o soneto é diferente...

Acompanhar o desenvolvimento dessas crianças exige sensibilidade. E isso é uma questão cultural. Ainda não estamos totalmente preparados para tentar compreender o que se passa pela infância. Governo e sociedade tentam sanar problemas pontuais, que não deixam de ser importantes – obviamente – mas não são fatos isolados.

Nessa queda de braço ninguém ganha. Todo mundo simplesmente vive.

Assim, as coisas simplesmente acontecem. E nossas dúvidas só aumentam, como no caso da menininha de 5 anos...

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Diploma já era... [Parte 2]

Eu soube que alguns políticos já se inscreveram...

***

Dica de Fenanda Pereira.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Lugares, pessoas e subjetividades

Há lugares escondidos no tempo
Pessoas que deixam saudade
Lugares que guardam sossego
Pessoas de imensa bondade.

Há cicatrizes que o tempo não cura
E respostas que a vida não dá
Momentos em que a gente precisa de ajuda
E sonhos voando na brisa do mar.

Há verdades que nunca são ditas
E mistérios que vivem guardados
Pessoas que jamais serão esquecidas
E lugares que jamais serão revelados.

Há esperança num rosto que chora
E um mundo sedento por momento de paz
Momento feliz que, às vezes, demora
Parece que nunca irá chegar.

Há desculpas que nunca serão aceitas
Pessoas que jamais serão perdoadas
Palavras certas vindas de pessoas alheias
Lugares que aguardam a nossa chegada.

Há vícios que nunca serão curados
Lições que jamais serão aprendidas
Pessoas que serão para sempre lembradas
Lugares completos: perfeita simetria.

O melhor caminho não foi descoberto
A maior descoberta não foi registrada
Há pessoas que quero ter sempre por perto
Meu tesouro é a família que eu deixei em casa.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Diploma já era...

Estou decepcionado. Há muito não me sentia assim.

O Superior Tribunal Federal [STF] acabou com a exigência do diploma de jornalismo. Para quem está de fora, a tendência é concordar com a alegação de que o diploma restringia a liberdade de expressão.

Balela. Desde quando informação qualificada de um jornalista restringe que qualquer outra pessoa se expresse?

Partindo desse princípio, quer dizer que podemos questionar qualquer outra profissão. Por exemplo: posso questionar a exigência de regulamentação dos taxistas, alegando que isso fere o meu direito de ir e vir com o meu próprio carro. Isso me soa tão absurdo quanto aos argumentos utilizados para a decisão.

Pra mim, essa medida só tende a comprometer a qualidade da informação, a imagem da capacidade dos jornalistas devidamente diplomados e todo um sistema já existente.

A queda do diploma pode não interferir na contratação desses profissionais, afinal, pensando pelo lado lógico da coisa, acredito que pouquíssimas empresas contratariam uma pessoa sem a devida formação. Por outro lado, a medida do STF enfraquece mais ainda uma categoria profissional que nunca foi, de fato, forte.

Quero dizer que isso pode comprometer ainda mais os salários, os planos de carreira e as condições de trabalho dos jornalistas. Além disso, acreditar que para exercer esta atividade não exige qualificação é um desrespeito aos que passaram pelo curso superior de comunicação e aos leitores. Se já existe um nítido comprometimento da notícia hoje, imagina sem a exigência de qualificação.

Acredito que, ao invés de abrir brechas para o comprometimento da informação, deveríamos estar preocupados em buscar maneiras de melhorá-la.

O que me deixa mais puto da cara é que os envolvidos nessa decisão não são jornalistas. Em outras palavras, eu não costumo ensinar meu médico a medicar as pessoas. Também não costumo segurar a bolsa de quem a roda numa esquina qualquer. Então, como posso aceitar uma decisão dessas vinda de quem não sabe direito o que acontece dentro do jornalismo?

Acho tudo isso muito preocupante. E lamento, mesmo, que as coisas tenham chegado a esse ponto. Amanhã, qual profissão será questionada?

Espero que questionem o papel de quem está tomando as decisões mais sérias do país.

domingo, 7 de junho de 2009

Músicas que eu queria ter feito [Parte 5]

Acredito, veementemente, que o amor extrapola sua “função” de sentimento. Ele é universal, intrínseco, adimensional e completo. É simples também, mas temos o péssimo defeito de complicá-lo sempre quando está relacionado a outras pessoas.

Clarice Lispector disse que “viver ultrapassa qualquer entendimento”. Concordo. Mas não entendo porque tentamos entender o amor. Aliás, porque tentamos entender tantas coisas?

Nossa paranóia é tão grande que até as crianças são contaminadas, embora seus entendimentos sobre o amor sejam bem melhores que os nossos.

Existem muitas músicas lindas que falam sobre o amor, por isso tive muita dúvida em selecionar uma para marcar o dia dos namorados, que está chegando.

Escolhi “Certas Coisas”, do Lulu Santos. Particularmente, acho ele um cara muito mala, mas que compõe como poucos. E esta canção capta muito bem essa coisa de “nem tudo precisa ter uma explicação”.



***

Eu te amo calado como quem ouve uma sinfonia de silêncio e de luz
Nós somos medo e desejo, somos feitos de silêncio e som
Tem certas coisas que eu não sei dizer...

Definitivamente, esta é uma das músicas que eu queria ter feito!