sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Tuca – ou Roberta se preferir

Roberta foi a primeira mulher – descontando a minha mãe – com quem morei. Juntos fazíamos refeições, limpeza do apartamento, compras, pagamentos de contas e, às vezes, íamos juntos para a cama.

Esta última atividade era uma das minhas favoritas. Não, senhores leitores, não se trata de sacanagem. Trata-se de intimidade, na qual o sexo não estava presente pelo simples fato de sermos, Roberta e eu, amigos.

Para mim, Roberta passou a ser Tuca quando ela recebeu o apelido, de um colega nosso, de Tonica. Achei que o diminutivo amenizaria o impacto. Depois da primeira semana pronunciando Tuca percebi que o apelido carinhoso conseguia traduzir com melhor efeito a minha ternura por aquela nova amiga. Amiga mesmo, de verdade, com “A” maiúsculo.

Juntos, passamos muitas coisas. Tuca presenciou minhas piores crises, inclusive financeiras, salvas quando, no limite de escolher entre andar de metrô ou almoçar, meu pai emprestava uma grana que me salvava de uma fome lascada em Brasília.

Foi também por sua causa que, nos dias em que a tristeza batia no peito, eu respirava fundo inúmeras vezes e trocava a garrafa de conhaque – permanentemente guardada ao lado da minha cama – por uma boa conversa reconfortante.

Apesar de todo amor que tenho por meu irmão – e de quem sempre escondi as necessidades que passava/passo no Planalto Central – foi a presença de Tuca que segurou minha onda em Brasília. Era o exemplo dela que me fazia sentir vergonha quando batia a vontade de desistir de tudo.

E foi descobrindo os pedaços de seu coração, com o sentimento mais fraternal que possa existir entre uma amizade sincera, que percebi o quanto as pessoas podem ser maravilhosas quando esperamos delas apenas respeito e afeto.

Assim como eu, Tuca teve uma penca de obstáculos que a transformaram. Seu olhar carrega a sensatez que, hora ou outra, se passa por alegria. Na verdade, acho que é a paz renovada de quem sabe que a verdadeira essência da felicidade está no detalhe das coisas, no improviso da vida.

Longe de ser a princesa do conto de fadas [não por falta de beleza, mas pela ausência de ingenuidade] ou estereotipo de qualquer coisa, Tuca é linda. É alguém que tem um futuro lindo pela frente. É o meu Norte no Planalto Central e minha irmãzona. É humana.

Tuca é o presente que amenizou a pancada que Brasília representou nos meus primeiros meses de vida adulta. Seu aniversário é um feriado quase santo que comemoro praticamente como sendo meu.

Feliz aniversário, Tuca...



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O vídeo é um pequeno presente. Lembranças de quando - quase acreditando que a fase ruim de nossas vidas não passaria - assistimos a apresentação deste poema de Oswaldo Montenegro. Sensação reconfortante, quase como o abraço protetor de um familiar...